A Tacada do dia...

quarta-feira, março 23, 2011

Crónica de uma relação terminada

Em 2008, sobre as directas do PSD em que Ferreira Leite foi eleita, escrevi aqui que ela não tinha «hipótese de ganhar nada nas próximas eleições» e que quanto a Passos Coelho tinha lançado «a sua candidatura para 2009» e que cá o esperavamos «no dia a seguir às eleições» em que Sócrates seria reeleito.

Escrevi ainda que «relativamente à vencedora, o grande problema da Thatcher cá do sítio é que Portugal já tem um Blair no governo. E a direita não irá votar Conservative se o Labour está a fazer o trabalho sujo que eles, quando lá estão, não conseguem.»

E este é um dos problemas que o PSD continua a ter. Dois anos depois, Passos está numa situação delicada. Andou nas últimas semanas a preparar a cama para Sócrates se deitar enquanto até hoje lá esteve deitado com ele. O PS andou a fazer o que a direita queria e o PSD andou de mão dada a votar Orçamentos e PECs. Agora Passos vem dizer que foi violado e Sócrates vem dizer que o líder do PSD o abandonou no altar.

Conclusão, com isto tudo - se Sócrates se recandidatar - Passos arrisca-se a ficar sozinho na cama e à família já não o aceitar por ter perdido a inocência.

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segunda-feira, março 21, 2011

Homens da Luta vs Miguel Sousa Tavares


Mudam-se os tempos, mudam-se os Tavares. De pai para filho houve uma mudança. E se o primeiro gritava na rua, o segundo é um vaidoso profissional da cagança. E se nos Tavares também houve uma mudança é porque o pai educou mal a criança

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quinta-feira, março 10, 2011

Manifesto

(actualizado por serem duas e não uma manifestação no dia 12)

As recentes manifestações, já realizadas noutros países e convocadas para o nosso, deixam-me um sabor agridoce na boca. Por todos os motivos acho necessário que as pessoas saiam à rua e digam «Basta!». Por vários motivos acho interessante a mudança de paradigma no que à consciencialização, comunicação e mobilização diz respeito. Porém, no caso do próximo dia 12 e salvo as devidas diferenças, uma manifestação que é convocada sem propostas concretas e outra manifestação que é convocada com o mote «pela demissão de toda a classe política» e que, apesar de muitas reivindicações justas para acabar com a promiscuidade na vida política, financeira e produtiva, mistura «acabar com mordomias» com «redução do número de deputados», que exige o controlo d'«o pessoal da Função Pública que nunca está no local de trabalho» e que omite ou esquece 36 anos de democracia parlamentar em que tanta culpa tem quem lá está como quem os pôs lá deixam-me um bocado de pé atrás. Muita desta gente que hoje clama por uma manifestação de um milhão de pessoas ou por outra para «desencadear uma mudança qualitativa do país» é a mesma que greve após greve, manifestação após manifestação, luta após luta olha para o lado como se a política não lhe dissesse respeito. Eu nasci no seio das gerações "à rasca" e "contra todos os políticos". Eu cresci no meio das gerações "à rasca" e "contra todos os políticos". Eu estudei com as gerações "à rasca" e "contra todos os políticos". Eu trabalho com as gerações "à rasca" e "contra todos os políticos". Estas gerações "à rasca" e "contra todos os políticos", que em diversas fases da vida tentei consciencializar e mobilizar para lutas que lhes diziam respeito, que convocam manifestações por telemóvel, facebook e e-mail são aquelas que me fazem lembrar o Analfabeto Político do Brecht. São aquelas que passaram anos a dizer que odeiam política. São aquelas que contribuíram para abstenções de mais de 50%. São aquelas que apesar de acharem que isto está cada vez pior continuam a contribuir para a alternância de partidos no governo e não de políticas. Estas gerações "à rasca" e "contra todos os políticos" são aquelas que parece que se aperceberam em 2011 que é da sua «ignorância política» que nascem as prostitutas, os menores abandonados, os indigentes e os piores de todos os tratantes que são os políticos vigaristas, corruptos e lacaios do sistema financeiro. Estas gerações "à rasca" e "contra todos os políticos" querem hoje uma solução imediata quando até aqui foram parte sistemática do problema. No dia 12 de Março haverá de tudo. Haverá gente realmente empenhada e consciente, haverá gente com propósitos alheios à resolução sistémica do problema e haverá, quanto a mim, uma grande maioria de gente que se insere nas gerações "à rasca" e "contra todos os políticos" que eu conheci.

A precariedade é um flagelo. Os baixos salários são um flagelo. A desregulamentação dos horários de trabalho é um flagelo. A diminuição de direitos e o não cumprimento dos existentes são um flagelo. O desemprego é um flagelo. Tudo isto são contributos para um cancro social que se arrasta pela sociedade. Os cancros não se combatem com panaceias ou placebos, extirpam-se. A maior parte das coisas que o "manifesto" da convocação duma das manifestações do próximo dia 12 aponta não são mais que isso (a outra nem sequer aponta nada). Panaceias e placebos que servem para pouco mais que moralizar a vida política nacional. Só uma mudança efectiva de políticas pode alterar o rumo actual. Na Luta de Classes não existem espectadores. Há um lado a tomar.

A comunicação social tem feito o seu papel na promoção destas manifestações do próximo Sábado. Até Cavaco, ontem, no se discurso de tomada de posse apelou ao "sobressalto cívico" e apoiou os jovens. Ambos me fazem lembrar o António Aleixo quando diz «Vós que lá do vosso império prometeis um mundo novo, calai-vos, que pode o povo q'rer um mundo novo a sério». Diz-se que somos um povo brando. Cuidado. Que também a água ferve em lume brando.

A Luta continua. Aqui, nos locais de trabalho, nas escolas, na rua. Lá estaremos, na rua, no próximo dia 19 de Março. Em manifestação pela mudança de espectáculo e não pela mudança de palhaços.

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quarta-feira, março 09, 2011

De noite ou de dia, a Luta é alegria!

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segunda-feira, março 07, 2011

«Ventos de Guerra»

As revoltas no mundo árabe reflectem, e por sua vez agravam, a grande crise do capitalismo global. Um dos pilares do imperialismo norte-americano – o seu controlo dos recursos energéticos do Médio Oriente – está a ser abalado em profundidade. O imperialismo investe todo o seu arsenal para travar os acontecimentos, ou canalizá-los em direcções «aceitáveis». E procura retomar a iniciativa.

É também nesta óptica que se deve analisar a acção do imperialismo relativamente à Líbia. As reacções oficiais e mediáticas são claramente diferentes das registadas nos casos da Tunísia ou Egipto. Não há análises cautelosas sobre «transições ordeiras». Não há a «ameaça do fundamentalismo islâmico». Entrou em cena a máquina de propaganda e desinformação que antecede as intervenções políticas e militares imperialistas.

Numa só semana revivemos as patranhas dos «3 mil mortos em Timisoara», dos «bebés arrancados das incubadoras no Kuwait pelos soldados de Saddam», do «genocídio dos albano-kosovares», das «armas de destruição em massa». O MNE inglês entrou nos anais da diplomacia (e da provocação) declarando ter informações de que Kadafi estava a caminho da Venezuela.

O imperialismo, responsável por centenas de milhares de mortos só nas guerras dos últimos anos, derrama lágrimas de crocodilo pelos mortos da repressão do regime líbio, para abrir caminho a um novo crime.

Longe vai o tempo em que o regime líbio se caracterizava pelo anti-imperialismo. Há anos que predomina a colaboração económica, mas também política e entre serviços secretos, com as potências imperialistas. Hoje Kadafi colecciona inimigos entre as forças progressistas do mundo árabe e Médio Oriente.

Mas a sua colaboração com o imperialismo não impede que este o sacrifique. A intervenção imperialista – já em curso – não resulta apenas dos enormes recursos energéticos da Líbia, que detém as maiores reservas petrolíferas em África. São também a tentativa do imperialismo retomar a iniciativa, instalando-se militarmente num país que faz fronteira com o Egipto e a Tunísia, lançando um aviso a outros levantamentos populares em curso no mundo árabe (do Iémene ao Bahrain, sede da V Esquadra Naval dos EUA), aliviando a pressão sobre os seus aliados em perigo (daí o entusiasmo da Al Jazeera e da Al Arabiya pela Líbia), a começar pela Arábia Saudita, uma das mais bárbaras ditaduras pró-EUA e peça central da dominação imperialista da região, centro promotor do fundamentalismo mais retrógrado e reaccionário, mas sempre poupada pelos «comentadores» de serviço. E, quem sabe, encontrar finalmente uma sede em África para o AFRICOM…

A comunicação social fez grande alarido da viagem do primeiro-ministro inglês ao Cairo, «a primeira após a queda de Mubarak». Mas foi um acerto de última hora numa viagem «a estados do Golfo não democráticos, acompanhado de oito dos principais produtores de armas britânicos». Em simultâneo, «o Ministro da Defesa britânico está na maior feira de armamentos da região, no Abu Dhabi, onde 93 outras empresas britânicas promovem os seus produtos» (Guardian, 21.2.11). Os lucros de mão dada com o apoio aos seus serventuários.

É sinal dos tempos que o principal comentador político do jornal conservador inglês Daily Telegraph escreva (24.2.11): «Os impérios podem colapsar no decurso duma geração […] Hoje, é razoável perguntar se os Estados Unidos, aparentemente invencíveis há uma década, não seguirão essa trajectória. A América sofreu dois golpes profundos nos últimos três anos. O primeiro foi a crise financeira de 2008, cujas consequências ainda não se fizeram realmente sentir [!]. […] agora parece que 2011 irá assinalar a queda de muitos dos regimes ao serviço da América no mundo árabe. É pouco provável que os acontecimentos venham a seguir o rumo asseado que a Casa Branca gostaria de ver. […] A grande questão está em saber se a América irá aceitar a redução do seu estatuto com graciosidade, ou se irá responder com violência, como os impérios em apuros têm tendência histórica a fazer».

Os acontecimentos destes dias estão a dar resposta à interrogação. Cabe aos povos impedir que o imperialismo norte-americano e europeu, no seu declínio historicamente inevitável, afundem a Humanidade na catástrofe.

Jorge Cadima, analista de política internacional, é Professor da Universidade de Lisboa.

Este texto foi publicado no Avante nº 1.944 de 3 de Março de 2011.

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