A Tacada do dia...

quinta-feira, março 10, 2011

Manifesto

(actualizado por serem duas e não uma manifestação no dia 12)

As recentes manifestações, já realizadas noutros países e convocadas para o nosso, deixam-me um sabor agridoce na boca. Por todos os motivos acho necessário que as pessoas saiam à rua e digam «Basta!». Por vários motivos acho interessante a mudança de paradigma no que à consciencialização, comunicação e mobilização diz respeito. Porém, no caso do próximo dia 12 e salvo as devidas diferenças, uma manifestação que é convocada sem propostas concretas e outra manifestação que é convocada com o mote «pela demissão de toda a classe política» e que, apesar de muitas reivindicações justas para acabar com a promiscuidade na vida política, financeira e produtiva, mistura «acabar com mordomias» com «redução do número de deputados», que exige o controlo d'«o pessoal da Função Pública que nunca está no local de trabalho» e que omite ou esquece 36 anos de democracia parlamentar em que tanta culpa tem quem lá está como quem os pôs lá deixam-me um bocado de pé atrás. Muita desta gente que hoje clama por uma manifestação de um milhão de pessoas ou por outra para «desencadear uma mudança qualitativa do país» é a mesma que greve após greve, manifestação após manifestação, luta após luta olha para o lado como se a política não lhe dissesse respeito. Eu nasci no seio das gerações "à rasca" e "contra todos os políticos". Eu cresci no meio das gerações "à rasca" e "contra todos os políticos". Eu estudei com as gerações "à rasca" e "contra todos os políticos". Eu trabalho com as gerações "à rasca" e "contra todos os políticos". Estas gerações "à rasca" e "contra todos os políticos", que em diversas fases da vida tentei consciencializar e mobilizar para lutas que lhes diziam respeito, que convocam manifestações por telemóvel, facebook e e-mail são aquelas que me fazem lembrar o Analfabeto Político do Brecht. São aquelas que passaram anos a dizer que odeiam política. São aquelas que contribuíram para abstenções de mais de 50%. São aquelas que apesar de acharem que isto está cada vez pior continuam a contribuir para a alternância de partidos no governo e não de políticas. Estas gerações "à rasca" e "contra todos os políticos" são aquelas que parece que se aperceberam em 2011 que é da sua «ignorância política» que nascem as prostitutas, os menores abandonados, os indigentes e os piores de todos os tratantes que são os políticos vigaristas, corruptos e lacaios do sistema financeiro. Estas gerações "à rasca" e "contra todos os políticos" querem hoje uma solução imediata quando até aqui foram parte sistemática do problema. No dia 12 de Março haverá de tudo. Haverá gente realmente empenhada e consciente, haverá gente com propósitos alheios à resolução sistémica do problema e haverá, quanto a mim, uma grande maioria de gente que se insere nas gerações "à rasca" e "contra todos os políticos" que eu conheci.

A precariedade é um flagelo. Os baixos salários são um flagelo. A desregulamentação dos horários de trabalho é um flagelo. A diminuição de direitos e o não cumprimento dos existentes são um flagelo. O desemprego é um flagelo. Tudo isto são contributos para um cancro social que se arrasta pela sociedade. Os cancros não se combatem com panaceias ou placebos, extirpam-se. A maior parte das coisas que o "manifesto" da convocação duma das manifestações do próximo dia 12 aponta não são mais que isso (a outra nem sequer aponta nada). Panaceias e placebos que servem para pouco mais que moralizar a vida política nacional. Só uma mudança efectiva de políticas pode alterar o rumo actual. Na Luta de Classes não existem espectadores. Há um lado a tomar.

A comunicação social tem feito o seu papel na promoção destas manifestações do próximo Sábado. Até Cavaco, ontem, no se discurso de tomada de posse apelou ao "sobressalto cívico" e apoiou os jovens. Ambos me fazem lembrar o António Aleixo quando diz «Vós que lá do vosso império prometeis um mundo novo, calai-vos, que pode o povo q'rer um mundo novo a sério». Diz-se que somos um povo brando. Cuidado. Que também a água ferve em lume brando.

A Luta continua. Aqui, nos locais de trabalho, nas escolas, na rua. Lá estaremos, na rua, no próximo dia 19 de Março. Em manifestação pela mudança de espectáculo e não pela mudança de palhaços.

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5 Comments:

  • Boa

    By Anonymous Anónimo, at 3/10/2011 10:57 da tarde  

  • Boa

    By Anonymous Anónimo, at 3/10/2011 10:58 da tarde  

  • Eu não diria melhor!
    Apoiado!
    :)

    By Anonymous Anónimo, at 3/10/2011 11:41 da tarde  

  • Espero mesmo que o espectáculo mude, senão está tudo tramado.

    By Anonymous Coelho, at 3/11/2011 2:52 da tarde  

  • Eh pah, eu acompanhei, pelo menos uma das manifestações pela TV e aquilo foi uma miseria (ou a reportagem foi mto mal esgalhada). Desde pessoas que diziam que n sabiam pq estavam ali até uma senhora que reclamava o direito à reforma antecipada (que me parece que sai um bocado fora do espirito da "geração à rasca")... Não achei a coisa com mto sentido, não! Mas enfim, eu como sou anti-facebook desconfio sempre das coisas que dele saem :D... mas sinceramente, acho que manifestações assim descredibilizam um pouco a tal geração (na qual, por uma questão de meses, pareço já n me inserir).

    By Blogger amendoim, at 3/12/2011 8:09 da tarde  

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