Sobre a morte do Cónego Melo
O pesar
O CDS apresentou hoje no Parlamento um voto de pesar pela morte do Cónego. Votos favoráveis do CDS e PSD, votos contra do PCP, BE e PEV, sendo que o PS - o outro partido da direita portuguesa - se absteve hipocritamente e grande parte dos seus deputados saiu da sala antes da votação.
Seguiu-se um minuto de silêncio, onde sairam mais alguns do PS e todos os deputados do Bloco. Sendo lastimável a votação no orgão soberano da República um pesar por esse senhor, a questão que se coloca é o porquê do minuto de silêncio.. ele até era adepto das explosões...
Sócio fundador dos vários Clubes dos Amigos da Bomba: o País a ferro e fogo
Foi activista e próximo de movimentos tão respeitáveis como o ELP, o MDLP e o Maria da Fonte. Foi a par com os seus amigos fascistas Alpoim Calvão ("o vulto mais procurado das redes bombistas de direita" que esteve escondido no Seminário de Braga), Paradela de Abreu (fundador do Maria da Fonte), Spínola (líder do MDLP), Barbieri Cardoso (subdirector da PIDE/DGS e comandante do ELP), e os industriais manos Ferreira Torres entre outros, responsável pelo Verão Quente de 75 em que as sedes dos partidos de esquerda (PCP, MDP/CDE e UDP) foram selvaticamente vandalizadas, incendiadas e atacadas à bomba. Além das sedes dos Partidos ainda o foram as sedes de sindicatos e de associações populares. Mais grave ainda foram as bárbaras agressões a militantes e simpatizentes do PCP e o assassinato do Padre Max (Maximino Barbosa de Sousa, 32 anos, candidato da UDP) e da estudante Maria de Lurdes Pereira, 19 anos, vítimas de um ataque bombista. Estes assassinatos ocorreram já em 1976, muito depois do 25 de Novembro - data histórica para a reacção em Portugal. Ainda, as bombas na Embaixada de Cuba - que mataram 2 diplomatas - e o carro armadilhado junto à sede do PCP na Avenida da Liberdade - que matou uma mulher no dia 1 de Maio - foram outras das muitas actividades destas organizações.
Sé em Julho de 1975 ocorreram 86 acções de violência contra centros de trabalho e dirigentes do PCP e em Agosto, foram contabilizados 153 assaltos, dos quais 55 com destruição dos centros de trabalho do PCP, 25 do MDP/CDE, 39 fogos-postos, 15 bombas e dezenas de agressões. De relevo que, segundo a Polícia Judiciária Militar, só em 1976 e depois da suspensão do Movimento por Spínola no exílio (!), antigos militantes do MDLP ainda fizeram 453 acções terroristas.
Estas organizações eram financiadas por "figuras ligadas à banca e à indústria no antigo regime, como António Champalimaud, Manuel Bullosa, Queirós Pereira e Miguel Quina" e ainda a um nível de estruturas operacionais pelos Manos Ferreira Torres (o irmão mais velho de Avelino, Joaquim, foi assassinado antes do seu julgamento e curiosamente os agentes da PJ que investigavam o crime também sofreram um acidente de viação entre Viseu e Mangualde) ou Valentim Loureiro. Em termos de actividade ofensiva, para além dos referidos em cima, "Ramiro Moreira, chefe de segurança do então PPD, (...) e Manuel Macedo, industrial nortenho agora alvo de uma investigação da Polícia Judiciária por suspeitas de espionagem a favor da Indonésia". Apesar da variedade de organizações no terreno tudo se misturava e o objectivo era sempre o fim dos comunistas. Destas organizações faziam parte a maior parte ex-agentes e oficiais da PIDE e da Legião Portuguesa.
Não tendo estado directamente envolvido em todas as actividades terroristas, o Cónego Melo foi sem dúvida, e aproveitando-se da profunda religiosidade das gentes do Norte, um activista e militante do MDLP que despoletou, patrocinou, defendeu e incentivou o ódio aos comunistas e outros progressistas através de discursos inflamados muito apropriados para quem desejava uma guerra civil para limpar os comunistas de vez e recuperar o regime que a Igreja, durante 48 anos, apoiou. Alcançou muitos dos seus propósitos, mas morreu primeiro que os comunistas!
Documentos históricos
Excerto da propaganda do ELP:
Curioso que o ELP agradeça em 1975 aqueles que votaram hoje o pesar pelo Cónego Melo, às igrejas e aos bancos. Deveras curioso.
Excertos da propaganda do MDLP:
Mais uma vez é curiosa a referência às igrejas e à cruzada branca.
Não é por acaso que quando Paradela de Abreu cria o grupo Maria da Fonte sabia que "só havia uma estrutura capaz de fazer frente à implantação dos comunistas, a Igreja Católica":
Moral da História
A morte não lava mais branco. Como diriam algumas pessoas, que a terra lhe pese como chumbo!
Mais informação e referências em
A 'cruzada branca' contra 'comunistas e seus lacaios' (Diário de Notícias)
ou 30 anos do PREC: O Norte a ferro e fogo (Correio da Manhã). As outras citações referem-se ao dossier do Público sobre o 25 de Novembro, que curiosamente já não se encontra disponível mas podem-se ler excertos aqui.
O CDS apresentou hoje no Parlamento um voto de pesar pela morte do Cónego. Votos favoráveis do CDS e PSD, votos contra do PCP, BE e PEV, sendo que o PS - o outro partido da direita portuguesa - se absteve hipocritamente e grande parte dos seus deputados saiu da sala antes da votação.
Seguiu-se um minuto de silêncio, onde sairam mais alguns do PS e todos os deputados do Bloco. Sendo lastimável a votação no orgão soberano da República um pesar por esse senhor, a questão que se coloca é o porquê do minuto de silêncio.. ele até era adepto das explosões...
Sócio fundador dos vários Clubes dos Amigos da Bomba: o País a ferro e fogo
Foi activista e próximo de movimentos tão respeitáveis como o ELP, o MDLP e o Maria da Fonte. Foi a par com os seus amigos fascistas Alpoim Calvão ("o vulto mais procurado das redes bombistas de direita" que esteve escondido no Seminário de Braga), Paradela de Abreu (fundador do Maria da Fonte), Spínola (líder do MDLP), Barbieri Cardoso (subdirector da PIDE/DGS e comandante do ELP), e os industriais manos Ferreira Torres entre outros, responsável pelo Verão Quente de 75 em que as sedes dos partidos de esquerda (PCP, MDP/CDE e UDP) foram selvaticamente vandalizadas, incendiadas e atacadas à bomba. Além das sedes dos Partidos ainda o foram as sedes de sindicatos e de associações populares. Mais grave ainda foram as bárbaras agressões a militantes e simpatizentes do PCP e o assassinato do Padre Max (Maximino Barbosa de Sousa, 32 anos, candidato da UDP) e da estudante Maria de Lurdes Pereira, 19 anos, vítimas de um ataque bombista. Estes assassinatos ocorreram já em 1976, muito depois do 25 de Novembro - data histórica para a reacção em Portugal. Ainda, as bombas na Embaixada de Cuba - que mataram 2 diplomatas - e o carro armadilhado junto à sede do PCP na Avenida da Liberdade - que matou uma mulher no dia 1 de Maio - foram outras das muitas actividades destas organizações.
Sé em Julho de 1975 ocorreram 86 acções de violência contra centros de trabalho e dirigentes do PCP e em Agosto, foram contabilizados 153 assaltos, dos quais 55 com destruição dos centros de trabalho do PCP, 25 do MDP/CDE, 39 fogos-postos, 15 bombas e dezenas de agressões. De relevo que, segundo a Polícia Judiciária Militar, só em 1976 e depois da suspensão do Movimento por Spínola no exílio (!), antigos militantes do MDLP ainda fizeram 453 acções terroristas.
Estas organizações eram financiadas por "figuras ligadas à banca e à indústria no antigo regime, como António Champalimaud, Manuel Bullosa, Queirós Pereira e Miguel Quina" e ainda a um nível de estruturas operacionais pelos Manos Ferreira Torres (o irmão mais velho de Avelino, Joaquim, foi assassinado antes do seu julgamento e curiosamente os agentes da PJ que investigavam o crime também sofreram um acidente de viação entre Viseu e Mangualde) ou Valentim Loureiro. Em termos de actividade ofensiva, para além dos referidos em cima, "Ramiro Moreira, chefe de segurança do então PPD, (...) e Manuel Macedo, industrial nortenho agora alvo de uma investigação da Polícia Judiciária por suspeitas de espionagem a favor da Indonésia". Apesar da variedade de organizações no terreno tudo se misturava e o objectivo era sempre o fim dos comunistas. Destas organizações faziam parte a maior parte ex-agentes e oficiais da PIDE e da Legião Portuguesa.
Não tendo estado directamente envolvido em todas as actividades terroristas, o Cónego Melo foi sem dúvida, e aproveitando-se da profunda religiosidade das gentes do Norte, um activista e militante do MDLP que despoletou, patrocinou, defendeu e incentivou o ódio aos comunistas e outros progressistas através de discursos inflamados muito apropriados para quem desejava uma guerra civil para limpar os comunistas de vez e recuperar o regime que a Igreja, durante 48 anos, apoiou. Alcançou muitos dos seus propósitos, mas morreu primeiro que os comunistas!
Documentos históricos
Excerto da propaganda do ELP:
O Exército de Libertação português (ELP) agradece a todos aqueles que, no CDS, PPD, PDC, igrejas, paróquias, bancos, etc., ou em iniciativas de carácter privado, têm apoiado a nossa justa luta, criando um clima propício para a nossa entrada em acção com o fim de limpar o País de todos os cães comunistas e traidores, que nos tentam impedir de sermos o que sempre fomos e de dispormos de nós como muito bem entendemos.
Curioso que o ELP agradeça em 1975 aqueles que votaram hoje o pesar pelo Cónego Melo, às igrejas e aos bancos. Deveras curioso.
Excertos da propaganda do MDLP:
Quando ouvires os sinos da tua freguesia tocar a rebate, vem para a rua com as armas que tiveres: caçadeiras, pistolas, picaretas, enxadas ou gadanhas.
é urgente prepararmo-nos para desencadearmos por todo o Portugal uma cruzada branca contra a opressão vermelha, contra o comunismo estrangeiro, usurpador, opressor e ateu
Mais uma vez é curiosa a referência às igrejas e à cruzada branca.
Não é por acaso que quando Paradela de Abreu cria o grupo Maria da Fonte sabia que "só havia uma estrutura capaz de fazer frente à implantação dos comunistas, a Igreja Católica":
"Cada diocese tem muitas paróquias, logo muitas igrejas, logo muitos sinos. Milhares de sinos ao norte do rio Douro. Centenas de milhares de católicos. Ao pensar nesta 'estrutura' em termos de eventual guerra interna, constatei que o País já estava 'quadriculado' militarmente. Cada paróquia seria uma 'base'. Cada igreja de granito ancestral, um 'reduto'. Cada sino um 'rádio transmissor'. Cada quinta perdida nas serras, um 'apoio logístico'"E terá sido ele a contactar o arcebispo de Braga, que lhe indicou o cónego Melo como mediador."
Moral da História
A morte não lava mais branco. Como diriam algumas pessoas, que a terra lhe pese como chumbo!
Mais informação e referências em
A 'cruzada branca' contra 'comunistas e seus lacaios' (Diário de Notícias)
ou 30 anos do PREC: O Norte a ferro e fogo (Correio da Manhã). As outras citações referem-se ao dossier do Público sobre o 25 de Novembro, que curiosamente já não se encontra disponível mas podem-se ler excertos aqui.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home