Chavez vs. Tânia
Em reacção a este post de crítica à posição dos média em relação a Hugo Chavez, a Tânia, leitora e contribuinte (ainda que preguiçosa) do blog, teceu o seguinte comentário:
Parece-me um simples "fait-diver" apontar ao Chavez e ao seu governo (democraticamente eleito como tanto gostam as burguesias ocidentais pró-capitalistas e com eleições monitorizadas e com a chancela organizações e de homems como Jimmy Carter que não poderão, certamente, ser acossados de proximidade ou apoio a regimes socialistas da américa latina) uma política no mínimo estranha. No entanto, não devo, não posso e não vou colocar em causa um sistema político por uma lei, que a existir, no máximo apelidarei de estúpida.
Desde o ínicio da sua história que os países da América Latina têm sofrido, primeiro com o imperialismo (principalmente espanhol, português e inglês - que levaram à destruição de grandes sociedades como a Inca ou a Asteca ), que levou a que a maior parte dos povos indígenas fossem massacrados e dizimados ou pelo menos exilados e mal tratados em pequenos nichos do seu País. A partir das colonizações e como qualquer boa colonização que se preze, as populações, os recursos e as terras foram submetidos às necessidades e às políticas do pais colonizador, sempre em detrimento das aspirações e necessidades (incluindo as básicas) das populações.
Depois de algumas revoluções e guerras no continente e chegados ao séc. XX, quando o "grande irmão do norte" já era o principal importador de produtos e matérias primas dos países da América do Sul, dá-se a crise económica nos EUA em 29 (a Grande Depressão). A crise propaga-se então pelo continente e tem como consequência o impulso e a subida de candidatos populistas e regimes ditatoriais em alguns Países. Os EUA no entanto criam políticas para aumentar a influência económica no continente sul americano. Entre os anos 50 e 90 o continente, salvo raras excepções, é dominado por ditaduras militares (Videla na Argentina, Pinochet no Chile, Stroessner no Paraguai, Brasil, etc). Estes regimes subiram ao poder com o apoio dos latifundiários, da burguesia nacional e do vizinho do norte (o caso mais mediático é sem dúvida o golpe de estado de Pinochet e o assassinato de Allende no Chile, depois de democraticamente eleito pela Unidade Popular, coligação com o apoio de socialistas, comunistas e democratas-cristãos). A partir dos anos 70, estes regimes militares, realizam a Operação Condor, acção conjunta, financiada monetariamente e com apoios logísticos e treino militar oferecido pelos EUA (presumo que fundamentalmente, na Escola das Américas fundada no Panamá em 1946 pela CIA), com o intuito de coordenar a repressão a opositores de "esquerda" (principalmente comunistas e socialistas). Esta operação só cessaria na década seguinte com a queda de alguns desses regimes. A operação saldava-se assim em dezenas de milhares de mortos e desaparecidos e perto de meio milhão de presos políticos. Além da perseguição política estes regimes tiveram como consequência o crescimento da pobreza, o aumento brutal das desigualdades sociais e a entrega dos recursos e matérias primas às oligarquias nacionais e multi-nacionais norte-americanas.
A história da América Latina é rica em diversidade e em cultura (diria mesmo que neste aspecto é o continente mais rico do planeta). No entanto desde cedo seguiu as mesmas linhas fundamentais. A opressão iniciada pelos (diversos) colonizadores que dizimaram as populações indígenas e instituiram um cunho económico e exportador destas sociedades (sociedades estas extremamente ricas em recursos e matérias primas e com populações extremamente pobres comparadas com o resto do mundo) ainda hoje persiste ainda que de uma forma diferente. Hoje já não encontramos um colonialismo primário de ocupação territorial. Nem tal é necessário. Hoje os países da América do Sul (devido ao seu passado recente) estão economicamente colonizados pelos Estados Unidos. As desigualdades sociais que se multiplicam nesses países, as crises económicas cíclicas e a extrema dependência dos mercados internacionais (principalmente o Norte-Americano), caracterizam indubitavelmente os países sul-americanos.
E os povos da América Latina devem libertar-se das correias que os oprimem e tomarem em mãos os seus destinos. E, a meu ver, foi isso que o povo da Venezuela fez. A Venezuela é provavelmente, senão o, um dos países mais ricos da América Latina (e até do mundo). Exportam petróleo há quase 100 anos e eram um dos países com a maior taxa de pobreza do continente (à volta de 80% da qual 40% era extrema) e um número bastante elevado de analfabetos (perto de 2 milhões). E o povo escolheu mudar. E nem sequer foi por um golpe de estado ou uma revolução (como os ocidentais tanto gostam de atacar quando se trata de implementação de regimes socialistas e se esquecem nos outros casos). Foi por eleição democrática e universal na Venezuala. Foram os Venezuelanos que lá puseram Chavez e a sua política. E confirmaram e reconfirmaram várias vezes (mais do que em qualquer outra democracia mundial):
Em 98 Chavez foi eleito com 56% dos votos.
Em 99 foi realizado um referendo popular para convocar uma Assembleia Constituinte para substituir a constituição nacional. 80% votaram a favor.
Essa Constituinte realizou a nova constituição e submeteu-a a novo plebiscito(!). Tendo sido aprovada por 71.21% dos eleitores.
Em 2000, devido à nova constituição, foram realizadas novas eleições onde Chavez voltou a ser eleito por maioria absoluta, desta vez com 59.7% dos votos.
Depois destes plebiscitos e porque a oposição interna e os norte-americanos não gostaram do resultado (a democracia só é boa quando ganham os que eles querem), em Abril de 2002 dá-se o golpe de estado que durou aproximadamente 48 horas (!). Depois como não conseguiram, nem nas urnas, nem pelo golpe tomar o poder, a oposição (democrática claro) tentou a sabotagem económica (incluindo uma greve que durou 9 semanas).
Depois, no final de 2003, recolheu as assinaturas necessárias para a realização de nova consulta popular para depor Chavez.
O novo referendo, realizado em 2004, apoiou a permanência de Chavez na presidência até ao fim do mandato. Desta com 58.25%.
Mais uma vez a oposição (sempre democrática, curiosamente sempre derrotada) alegou que tinha sido cometida fraude. No entanto os observadores internacionais presentes durante o processo (incluindo o Guterres e o ex-presidente norte americano Jimmy Carter) confirmaram a legalidade e normalidade do referendo. Os próprios EUA, apesar de com algum atraso, reconheceram também a vitória de Chavez. Coisa que certamente não aconteceria se um único vestígio de ilegalidade tivesse ocorrido nestas eleições.
E agora, novamente, em 2006, Chavez voltou a ser eleito com mais de 62% dos votos.
Posto isto, e concordando ou não, com as políticas do governo venezuelano não entendo (ou se calhar até entendo) porque continuam a apelidar o Chavez de ditador.
Não posso negar que me irrita um bocado qd ouço ou leio alguma coisa a defender o Chavez! E isto porquê? Porque me farto de ouvir historias, em discurso directo, de venezuelanos ou imigrantes na Venezuela a dizerem que o gajo é um ditador do catano. E eu pergunto: Um gajo que não permite que as funcionarias publicas, durante a hora de expediente, usem coisas como calças, maquilhagem ou pintura no cabelo, merece a defesa ou a consideração de alguém?! Hummm deixa ca pensar... se calhar NÃO!
Eh pah eu não sou, nem de longe nem de perto, uma admiradora dos EUA ou das politicas deles, mas acho que, o facto de os politicos americanos só fazerem merda, não justifica que os ditadores floresçam a cada canto e esquina e que a malta ainda diga: "eh pah, coitadinho daquele gajo, os americanos não o deixam em paz!"
Parece-me um simples "fait-diver" apontar ao Chavez e ao seu governo (democraticamente eleito como tanto gostam as burguesias ocidentais pró-capitalistas e com eleições monitorizadas e com a chancela organizações e de homems como Jimmy Carter que não poderão, certamente, ser acossados de proximidade ou apoio a regimes socialistas da américa latina) uma política no mínimo estranha. No entanto, não devo, não posso e não vou colocar em causa um sistema político por uma lei, que a existir, no máximo apelidarei de estúpida.
Desde o ínicio da sua história que os países da América Latina têm sofrido, primeiro com o imperialismo (principalmente espanhol, português e inglês - que levaram à destruição de grandes sociedades como a Inca ou a Asteca ), que levou a que a maior parte dos povos indígenas fossem massacrados e dizimados ou pelo menos exilados e mal tratados em pequenos nichos do seu País. A partir das colonizações e como qualquer boa colonização que se preze, as populações, os recursos e as terras foram submetidos às necessidades e às políticas do pais colonizador, sempre em detrimento das aspirações e necessidades (incluindo as básicas) das populações.
Depois de algumas revoluções e guerras no continente e chegados ao séc. XX, quando o "grande irmão do norte" já era o principal importador de produtos e matérias primas dos países da América do Sul, dá-se a crise económica nos EUA em 29 (a Grande Depressão). A crise propaga-se então pelo continente e tem como consequência o impulso e a subida de candidatos populistas e regimes ditatoriais em alguns Países. Os EUA no entanto criam políticas para aumentar a influência económica no continente sul americano. Entre os anos 50 e 90 o continente, salvo raras excepções, é dominado por ditaduras militares (Videla na Argentina, Pinochet no Chile, Stroessner no Paraguai, Brasil, etc). Estes regimes subiram ao poder com o apoio dos latifundiários, da burguesia nacional e do vizinho do norte (o caso mais mediático é sem dúvida o golpe de estado de Pinochet e o assassinato de Allende no Chile, depois de democraticamente eleito pela Unidade Popular, coligação com o apoio de socialistas, comunistas e democratas-cristãos). A partir dos anos 70, estes regimes militares, realizam a Operação Condor, acção conjunta, financiada monetariamente e com apoios logísticos e treino militar oferecido pelos EUA (presumo que fundamentalmente, na Escola das Américas fundada no Panamá em 1946 pela CIA), com o intuito de coordenar a repressão a opositores de "esquerda" (principalmente comunistas e socialistas). Esta operação só cessaria na década seguinte com a queda de alguns desses regimes. A operação saldava-se assim em dezenas de milhares de mortos e desaparecidos e perto de meio milhão de presos políticos. Além da perseguição política estes regimes tiveram como consequência o crescimento da pobreza, o aumento brutal das desigualdades sociais e a entrega dos recursos e matérias primas às oligarquias nacionais e multi-nacionais norte-americanas.
A história da América Latina é rica em diversidade e em cultura (diria mesmo que neste aspecto é o continente mais rico do planeta). No entanto desde cedo seguiu as mesmas linhas fundamentais. A opressão iniciada pelos (diversos) colonizadores que dizimaram as populações indígenas e instituiram um cunho económico e exportador destas sociedades (sociedades estas extremamente ricas em recursos e matérias primas e com populações extremamente pobres comparadas com o resto do mundo) ainda hoje persiste ainda que de uma forma diferente. Hoje já não encontramos um colonialismo primário de ocupação territorial. Nem tal é necessário. Hoje os países da América do Sul (devido ao seu passado recente) estão economicamente colonizados pelos Estados Unidos. As desigualdades sociais que se multiplicam nesses países, as crises económicas cíclicas e a extrema dependência dos mercados internacionais (principalmente o Norte-Americano), caracterizam indubitavelmente os países sul-americanos.
E os povos da América Latina devem libertar-se das correias que os oprimem e tomarem em mãos os seus destinos. E, a meu ver, foi isso que o povo da Venezuela fez. A Venezuela é provavelmente, senão o, um dos países mais ricos da América Latina (e até do mundo). Exportam petróleo há quase 100 anos e eram um dos países com a maior taxa de pobreza do continente (à volta de 80% da qual 40% era extrema) e um número bastante elevado de analfabetos (perto de 2 milhões). E o povo escolheu mudar. E nem sequer foi por um golpe de estado ou uma revolução (como os ocidentais tanto gostam de atacar quando se trata de implementação de regimes socialistas e se esquecem nos outros casos). Foi por eleição democrática e universal na Venezuala. Foram os Venezuelanos que lá puseram Chavez e a sua política. E confirmaram e reconfirmaram várias vezes (mais do que em qualquer outra democracia mundial):
Em 98 Chavez foi eleito com 56% dos votos.
Em 99 foi realizado um referendo popular para convocar uma Assembleia Constituinte para substituir a constituição nacional. 80% votaram a favor.
Essa Constituinte realizou a nova constituição e submeteu-a a novo plebiscito(!). Tendo sido aprovada por 71.21% dos eleitores.
Em 2000, devido à nova constituição, foram realizadas novas eleições onde Chavez voltou a ser eleito por maioria absoluta, desta vez com 59.7% dos votos.
Depois destes plebiscitos e porque a oposição interna e os norte-americanos não gostaram do resultado (a democracia só é boa quando ganham os que eles querem), em Abril de 2002 dá-se o golpe de estado que durou aproximadamente 48 horas (!). Depois como não conseguiram, nem nas urnas, nem pelo golpe tomar o poder, a oposição (democrática claro) tentou a sabotagem económica (incluindo uma greve que durou 9 semanas).
Depois, no final de 2003, recolheu as assinaturas necessárias para a realização de nova consulta popular para depor Chavez.
O novo referendo, realizado em 2004, apoiou a permanência de Chavez na presidência até ao fim do mandato. Desta com 58.25%.
Mais uma vez a oposição (sempre democrática, curiosamente sempre derrotada) alegou que tinha sido cometida fraude. No entanto os observadores internacionais presentes durante o processo (incluindo o Guterres e o ex-presidente norte americano Jimmy Carter) confirmaram a legalidade e normalidade do referendo. Os próprios EUA, apesar de com algum atraso, reconheceram também a vitória de Chavez. Coisa que certamente não aconteceria se um único vestígio de ilegalidade tivesse ocorrido nestas eleições.
E agora, novamente, em 2006, Chavez voltou a ser eleito com mais de 62% dos votos.
Posto isto, e concordando ou não, com as políticas do governo venezuelano não entendo (ou se calhar até entendo) porque continuam a apelidar o Chavez de ditador.
Etiquetas: Internacional, Política
1 Comments:
Está muito bem composto o teu post e só revela que te interessas imenso pela história mundial, mas... "essa não é a questão fundamental". Quer dizer que as pessoas serem proibidas de usar determinado tipo de vestuário ou aderessos não tem a mínima importância. Ter um presidente que manda fechar canais de televisão, porque falam mal dele (ainda que injustamente, segundo o que tentas-te porvar), também é pacífico e deve ser encarado com naturalidade. Ter um presidente que tem um tempo de antena reservado para se publicitar, a si próprio(espera lá, será por isso que as pessoas o adoram? Qtos milhões de analfabetos é que há lá?), todos os dias e às vezes aparecer a "chorar" a dizer que o querem matar também é um sinal da sua boa vontade?! Eh pah, no fundo no fundo, toda a gente tem boas intensões (até o Hitler, que só queria que os Alemães tivessem melhores condições de vida ao invés de estarem subjogados aos judeus. E os alemães tb o elegeram livremente e gostavam muito dele!), quanto mais não seja porque lutam por aquilo em que acreditam. O problema é que mtas vezes, para atingirem os seus objectivos (por mais nobres que sejam) seguem por caminhos que eu não quero nunca percorrer!
By Anónimo, at 8/08/2007 10:05 da manhã
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