ensaio sobre o apocalipse
Quem leu o Ensaio sobre a Cegueira não pode deixar de traçar paralelos, preocupantes, entre o livro de Saramago e o que se passou ontem nos estabelecimentos do Pingo Doce. Num país arrastado para uma crise miserável e populado por uma mistura de gente que não tem dinheiro para comer até ao fim do mês, gente mal remediada, gente sem esperança e, até, gente oportunista que ainda não há muitos meses bradava a viva voz, num nacionalismo bacoco, que não voltaria a comprar no Pingo Doce após a sociedade Francisco Manuel dos Santos ter vendido a totalidade do capital que detinha no grupo à sua subsidiária na Holanda, Alexandre Soares dos Santos provou ao País, num cenário a roçar o pré-apocalíptico, como é fácil deitar umas migalhas ao chão e ver o povo a ajoelhar-se para as apanhar mesmo que tenha que espezinhar o seu vizinho, abdicar de direitos fundamentais e da sua própria dignidade. Ilegal, com Dumping, ou legal, sem ele, a Jerónimo Martins evidenciou quão baixo pode descer a condição humana. E isto no dia em que se comemora o movimento de luta pela jornada de 8 horas de trabalho e onde se prova o quão alto pode levar a solidariedade e a luta por um mundo mais justo.
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