Se a falta de cultura pagasse imposto em vez de pedir andávamos a dar dinheiro ao FMI

Nem estava com vontade de falar nisto mas já que agora anda por aí uma celeuma por em Faro ter existido uma tentativa de boicote a um comício do PS falemos também do que se passou há uns dias em Coimbra, não com o PS mas com a CDU.

Na última terça-feira juntaram-se os legítimos herdeiros do botas, os militantes de trampolim dos partidos da troika e uma série de prestigiantes estudantes universitários que, podendo ou não estar incluídas nos anteriores grupos a avaliar pelo que diziam sobre o assunto, devem ser daqueles que aparecem na televisão a dizer que o Óscar Carmona foi Presidente da CM de Lisboa e que o Costa Gomes foi um avançado do Futebol Clube do Porto.

O problema? Uma pintura realizada pela CDU numa escadaria que vai da Rua Castro Matoso ao largo D. Dinis. O método? A convocação, a partir de páginas do Facebbok, dum boicote a um comício da CDU e a limpeza das ditas escadas.


Não querendo discutir o (des)interesse arquitectónico de tal obra não deixa de me causar alguns pruridos que alguns, de inocente forma causada pela sua ignorância, e outros, oportunisticamente, queiram fazer das escadas um monumento nacional. Monumento poderiam ser as antigas e centenárias escadas monumentais destruídas entre as décadas de 40 e 60 do séc. passado tal como






Monumentos poderiam ser uma série de edifícios como o Observatório Astronómico pombalino (no antigo e ajardinado Pátio das Escolas) e uma série de Colégios e Igrejas que também foram destruídas a par de grande parte da Alta por outro que também se formou em Coimbra antes de tomar conta do País. Sim, a Alta destruída pelo Salazar era Património Histórico. Estas escadas são pouco mais que um amontoado de betão que de monumental pouco mais têm que o monumental esforço necessário para as subir ou as monumentais bebedeiras que por lá passam.

Mas acabo por compreender este sentido de posse que leva umas dezenas de miúdos que não devem cá estar há mais de 2 ou 3 anos a assumirem que as escadas são da Universidade e consequentemente deles (sic) e a gritarem a plenos pulmões "Coimbra é nossa e há-de ser". No fundo não é mais do que aquele princípio canino da marcação territorial. Sítio onde mijamos é nosso, logo toda a cidade é nossa. Claro que estaria a ser injusto se apenas me referisse a essa função fisiológica, porque milhares de garrafas partidas, copos e latas, cerveja e vómito também sempre foram excelentes métodos de marcação de território. É verdade, custa a querer mas 16 toneladas de lixo deixados na rua (só) no dia do cortejo dá para marcar muito território.

Para além de tudo o resto também tem piada continuar a ver pessoas a falar sobre a história "política" das escadas. Para alguns é a primeira vez que estas escadas se pintam. Para outros nunca foi feito sem ser pela/para a AAC. Outros ainda insinuam que são sempre os "vândalos" dos comunistas a fazê-lo. Para os primeiros dois grupos a única coisa que se pode dizer é «perdoai-lhes senhor porque eles sabem o que dizem» visto que a maior parte deles deve cá ter chegado depois das últimas eleições. Aquelas escadas são pintadas regularmente, desde 1975, em épocas eleitorais e não só. Quanto aos últimos parece que preferem esconder um passado político que hoje não têm por falta de capacidade. O problema é que a internet é um pau de dois bicos.. tanto serve para "espontaneamente" gerar movimentos para boicotar comícios como serve para encontrar registos históricos de tudo e mais alguma coisa.

Custa-me a aceitar que os estudantes estejam mais interessados em discutir tinta em betão do que propinas e bolsas mas acaba por se compreender.. O que eu, inocentemente, não compreendo é o beneplácito das autoridades locais naquilo que foi uma manifesta tentativa de boicote a um comício político. Serão as autoridades de Faro melhor que as nossas?